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Ceratocone: uma doença rara. Mas não tão rara assim na região dos Inconfidentes.

  • Foto do escritor: Dr Lennon da Costa
    Dr Lennon da Costa
  • 25 de ago. de 2024
  • 3 min de leitura

 

Nas cidades que formam a região dos Inconfidentes – Mariana, Ouro Preto e Itabirito - em referência aos históricos acontecimentos da Inconfidência Mineira, um fenômeno epidemiológico tem chamado a atenção de médicos oftalmologistas: a enorme quantidade de pacientes portadores de ceratocone.



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Mas o que é ceratocone?

 

A etimologia da palavra ceratocone remete a forma que a córnea adota em casos muito avançados da doença. A palavra é formada pela junção de duas palavras gregas. Kerato que quer dizer córnea e Konos que quer dizer cone.

 

O ceratocone é uma doença caracterizada pela desorganização das fibras colágenas que compõem o tecido da córnea causando afinamento e perda da estabilidade biomecânica do tecido. Como consequência, a córnea perde o seu formato arredondado para adquirir formas mais cônicas. Uma vez que um tecido biológico tem a sua forma alterada, ele também altera a sua função. O que nesse caso leva a alterações da visão.

 

A primeira coisa que precisa ser entendida é que o ceratocone é uma doença com um longo espectro de apresentações clínicas. Ou seja, um paciente pode apresentar a doença em uma forma muito leve que não causa alterações na visão enquanto outro paciente pode apresentar uma forma avançada de ceratocone que necessite até de um transplante de córnea. Ao longo dessas duas pontas da doença, observamos diferentes tipos de cones quanto a localização, formato e comprometimento da visão.

 


 


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Embora seja uma doença cujo início da progressão costuma acontecer na adolescência ou nos adultos jovens, tem se observado casos em crianças e progressão em adultos com mais de 30 anos de idade. O que lançou por terra dois antigos dogmas sobre a doença:

 

-Que o ceratocone não ocorreria em crianças: FALSO

-Que o ceratocone não progrediria em adultos com mais de 30 anos: FALSO

 

 

As estatísticas mais confiáveis mostram que a prevalência do ceratocone na população é de cerca de 01 caso para cada 2000 habitantes (Krachmer JH, Zadnik et al).

Contudo, a melhora dos métodos diagnósticos e o melhor entendimento da doença tem mostrado que essa doença é mais prevalente do que isso.

 

Mas o que os oftalmologistas têm observado é que em algumas regiões do planeta, essa doença apresenta uma prevalência (número total de casos) muito maior do que os estudos populacionais revelaram.

 

Na região dos Inconfidentes, por exemplo, o ceratocone é uma doença epidêmica. Isso quer dizer que há mais casos nessa região do que aqueles esperados para essa população.

 

Mas por que isso acontece por aqui?

 

Suspeita-se que o maior número de casos de ceratocone em Mariana, Ouro Preto e região esteja relacionado com uma outra doença que possuem íntima relação com o ceratocone: a alergia. Em especial, a alergia ocular.

 

Pacientes muito alérgicos como portadores de rinite alérgica, asma e dermatite atópica são frequentemente acometidos por alergias oculares. Cujo principal sintomas é a coceira nos olhos. O ato de coçar os olhos é talvez a única ação comprovadamente relacionada ao desenvolvimento e piora do ceratocone.

 

Por ser uma região com altitudes mais elevadas, maior índice de umidade relativa do ar, e material particulado no ar (poeira), a região dos inconfidentes reuniria condições favoráveis para o desenvolvimento de diversas alergias. Deve-se lembrar também que o ceratocone apresenta um importante componente hereditário. E que em regiões com um grande número de casos, a prevalência da doença tende a aumentar mais ainda com o casamento entre famílias que já possuem a doença.

 

Se você possui algum parente com ceratocone é muito importante que uma criteriosa investigação seja feita.

 

Procure o seu oftalmologista.

 

 
 
 

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